Chapter Two - Try To Remember
No dia seguinte, Trevor estava preocupado. Andando com a carranca de costume, ele não pode ver Ruby em lugar nenhum.
Era um fato obvio que Ruby não era uma pessoa comum. Trevor tinha experiência o suficiente para dizer isso. Pessoas comuns, normais, não tinham aquelas marcas no rosto.
A maioria das pessoas não teria notado - mas Trevor não era a maioria das pessoas. - Aquelas eram marcas de machucados recém curados.
Mas quem… Quem gostaria de machucar uma menina tão… Frágil e pequena? Ela era como uma boneca de porcelana para ele. Um movimento em falso e BUM! Está quebrado.
Interiormente ele não pode deixar de se perguntar se ela já estava.
Lembrou-se da conversa do dia anterior. Da hesitação dela. Da confusão. Tudo aquilo somado as cicatrizes que viu, os fizeram ter certeza de uma coisa.
Ela não tinha uma vida boa na casa dela. Seus pais ou alguém provavelmente… Abusavam dela. A cabeça dele fervia só de pensar nisso e ele tinha vontade de explodir alguma coisa.
Oh, sim, explodir. Trevor sempre havia sido encarado com medo por essa sua caracteristica. Quando era pequeno foi diagnosticado pelo psicologo como um piromaníaco. No começo ele não achou nada de mais, até seus pais começarem a ter medo dele. Isso o aborreceu e estressou profundamente e, com oito anos, teve seu primeiro surto.
A casa toda estava em chamas e ele só riu. Riu enquanto seus pais quase morriam em meio ao fogo.
Mesmo depois de muito tempo, Trevor ainda tremia com a lembrança.
Mas foi nessa época que ele viu o quanto podia ser assustador. Ele tinha medo de si próprio.
Como poderia proteger Ruby, quando ele mesmo só conseguia causar a destruição?
Isso era estranho. Quando ele tinha começado a pensar em “proteger” ela? Sem saber a resposta, ele simplesmente… Decidiu se afastar.
Isso doeu. Doeu muito. Seu peito parecia rasgar quando essas palavras surgiram.
Ele não podia fazer isso. Simplesmente era… Era doloroso demais.
Mesmo assim, Trevor não viu Ruby na próxima semana. Nem na outra. Ele já estava se preocupando e pensando em ir a casa dela investigar, mas tudo o que sabia é que ela ficava em Elizabeth st.
Mas, na tarceira semana, Trevor pode por de lado suas preocupações quando viu aquele cabelo ruivo inconfundivel mancando para a sala.
Claro, suas preocupações voltaram quando notou que ela estava mancando. Antes que processasse o pensamento ele estava ao seu lado, segurando sua mão.
--Ei, você está bem, Ruby? -ele se sentiu perguntar.
Mas o que era isso? Por que estava tão agitado? E esse sentimento doloroso no peito? Mas o que…
A menina se encolheu e tremeu diante dele. Ela não parecia reconhece-lo por um segundo antes que seus olhos brilhassem de compreenção e ela assentisse.
--E-estou… -gaguejou ela, num sussurro, observando ao redor com medo.
Suas ações confundiram Trevor. Do que ela estava com medo? Ela não parecia ter medo dele. Então, de quem…?
E sua mentira descarada o incomodou. Ele podia ver claramente o hematoma em sua bochecha direita.
Tremendo de raiva, ele o tocou. A pequena menina a sua frente estremesseu e gemeu, como se estivesse sentindo dor.
--Quem… Fez isso? -perguntou o garoto, a voz tremendo na sua furia repentina. Ele sentia suas mãos coçando para pegar o isqueiro em seu bolso, aquele que ele usava para treinar seu auto controle. Mas ele não pegou. Primeiro tinha que cuidar de Ruby.
--N-ninguém. -gaguejou a menina amedrontada.
Trevor olhou ao redor. As pessoas estavam começando a observa-los. Segurou a mão de Ruby e a puxou, gentilmente, para outro lugar. Atrás da escola, ele finalmente se virou para a menina e olhou em seus olhos, o que não foi facil porque ela estava evitando seu olhar.
--Ruby, me diga quem fez isso com você. -pediu novamente, mas dessa vez em um tom baixo e suplicante.
--E-eu j-ja disse… -murmurou ela teimosamente. -N-não f-foi n-ninguém…
--Não brinque comigo! -exclamou Trevor alto, perdendo sua paciencia. -Você aparece mancando, com um hematoma em forma de mão no seu rosto. Acha que eu sou idiota ou o que? Eu posso dizer que alguém te bateu, e que essa não é a primeira vez! Seu comportamento grita isso!
A menina se encolheu e desviou os olhos para o chão.
--M-meu t-tio… -murmurou ela, sem olha-lo.
O tio dela?
--Seu tio te machucou? Por que não conta para seus pais? -perguntou Trevor, com os olhos arregalados. Era dificil acreditar que alguém da familia poderia ser capaz de fazer isso.
Um riso amargurado escapou pelos lábios da menina.
--M-meus pais… Estão internados em tratamento intensivo a três anos. -falou ela, com a voz tremendo. -Eu moro com meu tio desde então…
Três anos…
Por três anos ela suportou esse tratamento. Por três anos ela sofreu calada.
O peito de Trevor doeu, quando sua dedução se provou errada. Ruby não era uma boneca de porcelana. Ela era teimosa. Durou três anos… Quebrando aos poucos.
--Então diga a policia ou algo assim eles-
--Meu tio é policial. -interrompeu ela.
--Mesmo assim…
--Ele paga o tratamento dos meus pais! -ela finalmente soltou. -Eu não quero que eles morram…
--E você acha que eles gostariam de te ver assim?! Sofrendo por eles?! Eles são seus pais! Você não tem que pagar o preço por causa deles, Ruby! Seu tio te bate e…
Trevor parou quando um pensamento assustador veio a sua mente. Seus olhos se arregalaram quando suas suspeitas foram confirmadas pelo olhar assustado de Ruby.
--Seu tio… Te estuprou.
Isso a fez sair dos trilhos. Ela tremeu e se encolheu fortemente, o observando amedrontada.
--Você tem que falar para a policia, Ruby… -murmurou Trevor. A voz dele tremia. -Você precisa…
--Eu não posso… Meus pais…
--Eles não iriam querer isso. Eles não iriam querer te ver assim…
Ruby respirou fundo e fechou os olhos.
--Por que… Você se importa? -a voz dela era baixa.
Trevor não respondeu por longos minutos. Ele respirava profundamente pensando na resposta. Mas isso não levou muito tempo por que… Ele já sabia.
--Porque eu gosto de você, Ruby. -sussurrou Trevor. -Eu gosto de você.
Os olhos de Ruby se arregalaram e seus joelhos tremeram. Seu peito se aliviou ouvindo aquelas palavras.
Será que… Ruby gostava de Trevor? Era por isso que o rosto dele aparecia em sua mente?
0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0
Ruby e Trevor acabaram não indo para a aula. Eles sentaram-se atrás da escola e conversaram. Aprenderam bastante um sobre o outro. Foi… Divertido. Ruby, depois de muitos anos, se sentiu feliz.
0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0
Mas Ruby nunca foi alguém cuja felicidade duraria por muito tempo. Logo seu tempo acabou e ela teve que voltar para casa.
A fachada suja e escura de sua casa trouxe a Ruby maus pressentimentos.
E esses pressentimentos foram confirmados quando Ruby entrou em casa e sentiu a dor caracteristica de um corte em seu braço. Ela gemeu de dor e olhou para seu agressor. Se bem que ela não precisava olhar para saber quem era.
Seu tio empunhava um canivete e olhava para ela, com os olhos estreitos.
--Eu passei em sua escola mais cedo… E foi uma surpresa desagradavel ver você conversando com aquele moleque de novo, Ruby. Não aprendeu com sua ultima lição?
Ruby se encolheu.
--A-aprendi senhor.
--Ah… Mentir… Acho que não aprendeu não, querida.
Ruby queria simplesmente morrer.
0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0-0
No dia seguinte, novamente, Trevor não viu Ruby ir a aula. Isso o assustou. E se… O tio dela…
Sem um segundo pensamento ele abandonou a sala de aula, ignorando a reclamação do professor e correu.
Por favor… Esteja bem, Ruby...